É Festa no Céu

Se alguém seria feliz para sempre, então para que precisaria de um anjo da guarda? Não parecia lógico, mesmo assim estava decidido: o menor dos anjos seria o representante celeste daquela futura menina, quando pousasse a graça de sua existência fenomenal na Terra.

A experiência era já expectativa há alguns anos-luz, como um trabalho que leva tempo para estudos e requer planejamento para funcionar. Como uma tese de doutorado. Muita conversa em baixo de arco-íris e escorregadeiras, acompanhados de pacotes de jujubas, chocolates e pés-de-moleque para espantar a fome. Mas chegara ao fim. Finalmente, pela primeira vez, traria o destino a um ser humano a missão de representar a alegria como o único sentimento durante todo o tempo de passagem no mundo onde a não-alegria predomina. Uma verdadeira obra de arte celestial.

São Pedro mandou um céu azul para presentear o acontecimento. Algumas estrelas vieram ver de perto também, e depois, cintilantes, voltaram correndo às suas galáxias para contar as irmãs e as estrelas-mães o fenômeno. As nuvens entraram em greve de chuva e se esconderam atrás das montanhas para ajudar no céu limpo do São Pedro. O paraíso fazia festa.

Os anjos reunidos comungavam uma expectativa embaraçada, enquanto o menor deles, que seria o guardador da menina-fenômeno permanecia cabisbaixo e não era tão eufórico quanto os amigos. "O que passa?" perguntava o Gabriel com as mãos na cabeça do pequeno, como se protegesse de algo que corria em sua mente. Os olhos e o aspecto do anjo-menor fazia com que qualquer um ali tivesse vontade mesmo de proteger, de ajudar. Mas mudavam de idéia no momento de surpresa que despertava com a sabedoria das respostas e dizeres daquele ser especial entre o grupo de meninos alados que vivem brincando nas nuvens.

"Está errado. Eu nunca conseguirei fazer o meu trabalho com esta criança. Vocês não percebem?"

A turma de anjos fazia silêncio. Duas estrelas que estavam próximas, aumentaram um pouco a intensidade do brilho voltando suas faces para a face do anjo, fazendo com que todos enxergassem melhor as palavras pronunciadas por sua pequena boca.

"Isso não é triste? Ela nunca irá conhecer a tristeza."

Fernando Palma

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