Reencontro com você


Reencontro com você - Marcos Airosa

Publicado a 10 Março 2011 por Vitalves
Reencontro com você Antigamente, o rio da vida fluía pelo seu ser, às vezes em torrentes, às vezes devagar, fazendo-o sentir-se repleto de paz por estar à vontade consigo e ligado a vida.
Quando você era bem jovem, a casa de seu ser era um lugar extraordinário de ser explorado. Não havia parte da casa que não fosse boa. Vivia dentro de seu corpo e por estar em contato com sua natureza você dizia era o bastante.
Quando você vivia ali totalmente receptivo, vivia em seu próprio corpo, escorado no porão de seu ventre, e a energia da vida fluía livremente por você. Os andares de cima eram o território de seu coração e todas as portas e janelas estavam abertas para a vida. Seu coração era tão vigoroso que, a cada batida, bombeava para cada recanto de seu ser a alegria de amar a si mesmo e  a vida. E o sotão de sua mente , era um lugar maravilhoso, repleto de imaginação e curiosidade. Você conseguia simplesmente se apresentar para a aventura da vida. Em vez de tentar transformá-la no que acreditava que ela deveria ser.

Como estava receptivo, tudo o tocava profundamente. Lembra-se de admirar com deslumbramento as nuvens que dançavam para você. Lembra-se do balé das partículas de poeira, iluminadas pelos raios de sol que penetrava no quarto?
Alegre por viver em seu corpo e por estar em contato com sua verdadeira natureza ( quando dizia ¨Eu sou!!) era o bastante ou seja era melhor que o bastante, pois você era puro(a) ou simplesmente você. Não precisava reprimir sentimentos. Nenhuma parte da casa lhe era vedada. Você ainda não acreditava que precisava ser diferente para receber o alimento e a atenção necessários a sobrevivência.
Quando a vida o ameaçava, confundia ou desapontava, você fechava partes de si mesmo e começava a viver do “eu não sou; eu deveria ser”, que existia dentro de sua cabeça.

Quanto mais você vive dentro da mente, em vez de no coração, mais acredita que, para se sentir seguro, tem de estar no controle, escondendo profundamente dentro de si a criatividade espontânea e a pura alegria de estar vivo.
Na juventude, além de você estar receptivo a alegria de viver a vida, você também estava vulnerável às ações das pessoas a seu redor, ( pais, irmãos, tios, avós, professores, vizinhos e outros.) começaram a influenciá-lo  A vida os ferira e eles transferiam os ferimentos para você. Mesmo com pais amorosos isto acontecia.
Ninguém o ensinou a ser receptivo na presença da dor. Para sobreviver , você aprendeu a fechar partes de si mesmo, a conter o fôlego e a contrair o corpo. Cada vez que o fazia, tentando negar o que estava acontecendo, colocava mais uma parte de si em uma caixa, que escondia num quarto na casa do seu ser. Na porta de cada quarto, fixava um cartaz que dizia: ¨Não Abra. Embaixo dessas palavras escritas em letras pequenas, o aviso: Este quarto esta repleto de maus sentimentos. Mas mesmo atrás de portas fechadas, aqueles sentimentos ainda influenciavam sua vida. Logo todos os quartos da casa estavam ocupados e você era obrigado a levar alguns para o porão, na esperança de que não mais atormentassem. Eram os  que continham aquilo que você mais temia raiva, terror e desespero.

Mesmo que tenha conservado certa lembrança de um dia haver ocupado a casa inteira, com a luz e os risos que inundavam, os filmes de sua mente eram bons o bastante para compensar as perdas. Assim as coisas permaneceram em equilíbrio por algum tempo. Quando se desestabilizaram você teve a primeira experiência de tentar recriar a alegria que conhecera, quando estava ligado a si mesmo e a vida. Talvez tenha sido com o copo de vinho que transformou  seu corpo em fogo líquido, ou com o profundo relaxamento depois de comer um alimento proibido, ou com a felicidade da orgia de compras, ou pela empolgação de ganhar no jogo. Ações como essas eram apenas sombras das sensações maravilhosas que experimentou quando ocupava a casa inteira. Mas como a casa toda não estava disponível, davam a impressão de substituir a antiga satisfação.
Incapaz de ser quem era, você passou a imaginar quem poderia ser. Não notou que deixara o mundo maravilhoso do Eu sou, que conhecera quando criança em troca do mundo do Eu não sou, Eu serei.

Agora uma corrente de descontentamento, tédio e desespero silencioso moveu-se dentro do seu ser, mas você fez força para não notar. Como estava desconectado do alimento de seu coração. Você tentou encontrá-la em novos relacionamentos, gastando dinheiro,fazendo ginástica para melhorar a aparência, dirigindo seu carro mais luxuoso, etc. Isso o levou a procurar terapias, aulas e religiões, na esperança, de que, consertando o que estava errado, tudo ficaria bem.
A profunda paz da satisfação com o que se é, só virá quando você retornar ao próprio corpo e ocupar todos os cômodos da casa de seu ser. Para fazê-lo, terá de se encontrar com os sentimentos que estão atrás da porta do porão de sua mente.
Reencontrar seus sentimentos não significa abandonar-se a eles. Significa conceder-lhes atenção exclusiva, para que eles possam fazer parte da energia vital.
É possível acordar de manhã com um amor-próprio permanente, um apreço profundo pelo dom da vida e uma curiosidade incrível pelos rumos que sua existência vai tomar. Não apenas isso é possível como é seu direito.

Você não precisa se preocupar em ter nenhum dom especial, nem com o que fazer com ele. Tudo o que precisa é beber da fonte da sabedoria e apoio que existe no âmago de seu ser. A razão de sua própria existência aparecerá a seu tempo e a seu modo.

( Marcos Airosa )

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