Semeadores
A partir do momento em que assumimos a insatisfação consciente de uma vida repleta de incertezas, cujo horizonte parece encoberto, sem esperanças claras e na iminência de um futuro cada vez mais assustador, iniciamos a busca de uma razão que nos permita optar e justificar de maneira plausível os esforços e sacrifícios de uma continuidade. Esta patética condição de presente que vivenciamos, nos motiva, obsessivamente, a desvendar uma infinidade de questões relativas ao porquê da vida, das provações e desafios que surgem, pois, sem saber por que ou para que, insistimos teimosamente em manter-nos vivos e garantir cada segundo, algumas vezes, a qualquer preço e sem entender a razão.
Até hoje, para manter-nos participantes no contexto da vida e na busca de um entendimento das macro forças que nos governam, contávamos apenas com um ferramental comprometido com os vícios do sistema. Cúmplices afinal das armadilhas que não levam a nada definitivo, e que iludem dramaticamente aqueles incautos desesperados, que persistem na procura de realizar sonhos e promessas de felicidade através de uma entrega total aos valores exigências de uma estrutura embrutecida.
E eis que, nesse panorama, surge uma oportunidade de fugir totalmente dos embustes e armações, tendo à frente uma fonte ilimitada de respostas, não viciadas nem influenciadas por interesses unilaterais. O contato com civilizações de origem extraterrestre emerge como gigantesca esperança de sonhos até então impossíveis de realização. Via de acesso direto a uma profunda transformação e epitáfio de uma era ultrapassada.
Porém, caberia refletir se temos, neste momento, estrutura, ou mesmo capacidade, para compreender tudo aquilo que nos for revelado e que percebermos ao longo desse fantástico processo do contato extraterrestre.
T odos nós somos detentores de um volume de conhecimentos obtidos através da nossa escalada de vida. Normas, padrões, regras sociais, comportamentos adquiridos (bons ou maus), fazem parte de nossa realidade existencial. Todas essas informações processadas, que constituíram elementos básicos da configuração de nossa personalidade e caráter , são afinal limitadas, parciais e incompletas, como é comum no habitat humano.
Cada um de nós afirma ter uma visão própria de si mesmo, do mundo e das pessoas que nos rodeiam, mas será que ela é realmente verdadeira? Será que as conclusões obtidas para estruturar essa visão estão sedimentadas em dados reais, concretos ou consistentes? A resposta objetiva é não. T odos possuímos conhecimentos que são parciais, já que a informação e vivência obtidas são limitadas às nossas oportunidades. Para entender melhor o que pretendo, lembremos da estória dos três cegos que, um dia, caminhando por uma longa estrada, toparam acidentalmente com um enorme elefante. Um deles, apalpando a tromba, afirmava para seus companheiros, inocentemente, que o animal tinha a forma de um tubo comprido, mais grosso na parte de cima que na de baixo, além de ser extremamente maleável. O outro, que apalpava a cauda, o desmentia convicto, afirmando que a forma do animal era semelhante a uma corda grossa meio esfiapada com um tufo de cabelos na ponta. Já o terceiro, contrariava efusiva e radicalmente seus amigos, apalpando uma enorme e musculosa pata, afirmando que o animal, pelo que podia constatar , não tinha as formas que ambos descreviam pois, para ele, parecia perfeitamente o tronco de uma árvore. Neste tolo e banal exemplo, quem dizia a verdade? Qual dos três cegos estava com a razão? Nesta situação,em quem deveríamos acreditar?
Como podemos observar, ninguém tem uma visão completa de tudo e nem poderá ter jamais, por isso é que somos tão diferentes. Mesmo assim, cada ser humano pensa egoisticamente que aquilo que possui é o supra-sumo, o máximo dos conhecimentos e informações, ou seja, acredita que detém em seu interior a verdade clara, óbvia, total e evidente, a melhor e única percepção do universo que o rodeia quando, na realidade, guarda para si mesmo somente um fragmento, uma ínfima fração de um todo maior .
Este aspecto nos distancia não somente de um relacionamento mais íntimo e profundo entre os seres, mas também de uma compreensão cada vez maior de nós mesmos e do papel que representamos neste pequeno planeta e no Universo.
Infelizmente, hoje em dia nada mais nos inspira confiança, motivo pelo qual reforçamos drasticamente Nosso mútuo afastamento,mergulhando continuamente dentrode nósmesmos à procurade um sentidopara a vida e de uma compreensão maior e mais clara das coisas, que nunca chega, para o desespero geral, ou que timidamente se perfila, sem jamais conseguirmos senti-las ou avistá-las totalmente. O que conseguimos, afinal, é aumentar nosso egoísmo; a atomização da personalidade continuamente mais distante das outras, camuflando um desejo agoniante de sobrevivência que tristemente nos separa, a cada momento, da verdadeira razãode existirmos.
Para vir a compreender o que realmente somos, por que vivemos e o que o Universo nos depara, é necessário entender que a vida e as relações interdependentes e complementares entre os seres, aqui ou em qualquer parte do Cosmos, são diferentes de como estamos acostumados a vê-las ou interpretá-las. Tudo, lá fora, ocorre em função de regras e normas que desconhecemos, já que as ignoramos ou não as compreendemos por estarmos alienados ou talvez perdidos dentro de um mundo onde tudo está convencionalizado e definido conforme interesses ideológicos e ambições megalomaníacas que, insensivelmente, se sobrepõem aos direitos e às necessidades legítimas do ser humano. Embrutecida, a humanidade continua a serviço de poucos, retro-alimentando um servilismo que se arrasta ao longo de séculos. Hoje, até esses poucos que desde sempre foram dominadores desconhecem o verdadeiro sentido das coisas, pois foram também condicionados há gerações, resultando em escravos de suas próprias ambições, limitações e debilidades.
Tudo neste mundo parece obedecer cegamente a convenções culturais depositadas pelo tempo. Moda, religião, filosofia, ideologia, hábitos e costumes são o reflexo da realidade cultural de um povo ou de uma nação, mas em nenhum momento isto quer dizer que estes aspectos que os identificam sejam realmente os corretos, aqueles que deveriam ser acordes à melhor formade vidados seus integrantes.
Cabe lembrar aqui que o sistema vigente em nosso mundo, e instaurado nos atos do cotidiano, foi obtido por processos históricos diferenciados. As guerras, os conflitos sociais, as revoluções, a industrialização e o comércio, determinaram a formação de estruturas que se organizaram, se institucionalizaram e passaram a legislar a vida de milhões de seres. Foram raríssimos os momentos em que o homem planejou e desenvolveu sistemas ou estruturas que estivessem em sintonia com suas verdadeiras necessidades. A imensa maioria surgiu atropeladamente, nascendo no interior de outros subsistemas ou servindo a propósitos unilaterais, carregando emsimesmos o lastrodos víciose condicionamentos anteriores. Só , o curso da poderosa máquina robotizadora do poder e da competição foi detido para pensar nos anseios reais e próprios do homem. O que houve, na maioria dos casos, foi a modificação superficial dos fatores de submissão e das regras do jogo na luta pela sobrevivência e pelo poder, continuando a ser o pior inimigo, ainda, o próprio homem. Finalmente, a história e os acontecimentos que surgiram, motivados por interesses criados, ideológicos, econômicos, religiosos, raciais, paternalistas ou autocratas, encarregaram-se de fortalecer sempre mais os mecanismos de alienação consolidando, ao longo do tempo, uma estrutura opressora terrivelmente forte e auto-sustentável,pois quem luta contra ela é virtualmente marginalizado e abandonado à própria sorte,sem remorso ou piedade.
Já por volta de 1951, um grande pensador e pesquisador chamado Erich Fromm, em seu livro A Linguagem Esquecida, nos afirmava: "...Os seres humanos dependem e precisam uns dos outros. Mas a história até agora só tem sido influenciada por um único fato: a produção material não foi suficiente para satisfazeras necessidades genuínas de todos os homens".
E continua a seguir: "...A elite, obrigada a controlar os não escolhidos, tornou-se prisioneira de suas próprias tendências restritivas. Assim, o espírito humano, tanto dos dominados quanto dos dominadores, desvia-se de sua finalidade humana essencial, a de pensar e sentir humanamente, utilizar e ampliar as faculdades de raciocínio e de amor , inerentes ao homem, e sem as quais seu desenvolvimento total se torna inválido".
"...Neste processo de desvio e deformação, o caráter do homem se deturpa. Objetivos opostos aos interesses do verdadeiro 'eu' humano passam a ser predominantes. Seu potencial de amor se empobrece e ele é impelido a desejar poder sobre os outros. Sua segurança interior diminui e ele é levado a procurar compensação por meio de uma sede insaciável de fama e prestígio. Ele perde o senso de dignidade e é forçado a se converter em uma mercadoria, indo buscar o respeito próprio em sua vendabilidade, em seu sucesso".
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